Inflação na Argentina atinge menor patamar em quase cinco anos, marcando vitória para o governo Milei
SÃO PAULO – A Argentina registrou uma queda significativa na inflação em janeiro, com a taxa mensal atingindo 2,2%, o menor nível desde julho de 2020. O resultado representa uma conquista para o presidente Javier Milei, que completou pouco mais de um ano no cargo e vem implementando uma série de medidas de austeridade para estabilizar a economia do país, historicamente combalida.
O índice de preços ao consumidor ficou ligeiramente abaixo das expectativas dos analistas, que projetavam uma inflação de 2,3%, e também abaixo dos 2,7% registrados em dezembro. A desaceleração da inflação é um alívio para o governo, que busca manter o ritmo positivo da economia enquanto negocia um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
De acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatísticas (Indec) nesta quinta-feira (13), a inflação acumulada em 12 meses caiu para 84,5%, marcando o primeiro índice abaixo de 100% desde janeiro de 2023, quando ficou em 98,8%. O Ministério da Economia destacou, em nota, que o resultado confirma a continuidade do processo de desinflação, com a menor taxa mensal desde meados de 2020.
Setores que influenciaram a inflação
O setor de restaurantes e hotéis foi o que mais contribuiu para o aumento de preços em janeiro, com alta de 5,3%, impulsionado pela temporada de férias no país. No extremo oposto, o segmento de vestuário e calçados registrou uma queda de 0,7%, ajudando a conter a inflação geral.
A Argentina, conhecida por ser uma grande exportadora de grãos e uma produtora de energia em ascensão, enfrenta há anos uma inflação persistentemente alta, que chegou a superar os três dígitos. Nos últimos meses, no entanto, a taxa mensal tem se mantido entre 2% e 3%, após atingir um pico de cerca de 25% em 2022.
Medidas de austeridade e desafios
Desde que assumiu o governo, Javier Milei implementou um rigoroso ajuste fiscal, com cortes significativos nos gastos públicos. Segundo o Instituto Argentino de Análise Fiscal (Iaraf), a redução de despesas atingiu 4,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Essas medidas contribuíram para o primeiro superávit fiscal anual desde 2010, mas também aprofundaram a recessão no país.
No primeiro semestre de 2023, a pobreza na Argentina saltou 11 pontos percentuais, atingindo 52,9% da população. Há indícios de que o índice tenha recuado no segundo semestre, mas os efeitos sociais das políticas de austeridade continuam sendo um desafio para o governo.
Objetivos futuros
Para Milei, a redução da inflação é um passo crucial para eliminar os controles de capital, que prejudicam negócios e investimentos no país. O presidente defende que a inflação precisa se manter abaixo de 2% para que essas restrições sejam removidas. No entanto, analistas alertam que, apesar dos avanços recentes, a trajetória para atingir esse patamar ainda é incerta e pode demandar mais tempo.
Enquanto o governo celebra a queda da inflação como uma vitória de suas políticas econômicas, os argentinos seguem enfrentando os impactos de uma recessão profunda e de um aumento expressivo da pobreza. O desafio de Milei será equilibrar a estabilização da economia com a recuperação do bem-estar social nos próximos meses.