Família denuncia negligência após morte de farmacêutica em hospital particular de Goiânia
A morte da farmacêutica Karine Dias Ferreira, de 33 anos, tem gerado forte comoção e revolta entre familiares e amigos. Eles denunciam negligência médica em um hospital particular localizado no Setor Jardim América, em Goiânia. A profissional da saúde procurou atendimento por diversas vezes ao longo de quase duas semanas, mas, segundo a família, não recebeu o tratamento adequado e teve o quadro agravado até evoluir para óbito na madrugada da última sexta-feira (4).
Karine buscou atendimento médico no dia 21 de março, após apresentar fortes dores de garganta. Ela foi atendida por meio de um plano de saúde recém-contratado, recebeu medicação e foi liberada com um atestado de apenas um dia. Ainda debilitada, retornou ao trabalho no dia 25 e, para surpresa da família, foi informada de seu desligamento logo após o retorno.
A irmã da vítima, Tatyanny Alves Lima, afirma que a demissão ocorreu mesmo diante do quadro clínico ainda delicado. “A instituição não respeitou sequer o momento em que ela estava doente”, lamentou.
Após o desligamento, Karine passou a apresentar novos sintomas: episódios de vômito, reações na pele e dores intensas. De acordo com os relatos, ela fazia uso de antibióticos fortes para combater a infecção, o que pode ter contribuído para o agravamento do quadro de saúde.
Quatro dias na emergência
Entre os dias 30 de março e 2 de abril, Karine retornou diversas vezes ao hospital, permanecendo na emergência, onde recebeu apenas medicamentos para alívio da dor. Segundo a irmã, ela ficou sentada em uma cadeira por quatro dias, em observação, e só foi internada após mais de 30 horas, já na madrugada do dia 3 de abril. “A dor só cessava temporariamente com o uso de morfina”, contou Tatyanny.
Mesmo com a internação, a jovem continuou recebendo os mesmos medicamentos já utilizados anteriormente. A família relata que, durante o período, Karine foi atendida por pelo menos 12 médicos diferentes, o que teria dificultado a continuidade e a eficiência no acompanhamento do caso. “O fígado já apresentava sinais de inflamação, mas os médicos diziam que não era preocupante”, afirmou a irmã.
Na tarde do dia 3, Karine foi transferida para a enfermaria. Neste momento, apresentava dificuldade para respirar e já não tinha acesso venoso disponível, sendo necessário realizar um acesso central. Pouco depois do procedimento, sofreu uma parada cardiorrespiratória. Foi levada à semi-UTI, onde morreu horas depois.
Hepatite fulminante
O laudo médico apontou hepatite fulminante como causa da morte. Para a família, o quadro foi provocado pelo uso contínuo e não supervisionado de medicamentos, além da demora em realizar uma investigação mais profunda do estado clínico da paciente.
A mãe de Karine, Maria das Graças Alves Lima, de 70 anos, está inconsolável. “Levei minha filha para o hospital morrendo de dor e trouxe ela morta. O que mais me dói é saber que ela não foi cuidada”, desabafou.
Karine morava com a mãe e não tinha filhos. Segundo os familiares, ela era muito querida por colegas e alunos — ministrava treinamentos e palestras na área farmacêutica. Seu sepultamento, realizado no sábado (5), no Cemitério Memorial, foi marcado por forte comoção. “Lotamos a sala do velório três vezes com diferentes grupos de pessoas que fizeram parte da vida dela”, relatou Tatyanny.
A família informou que irá acionar a Justiça contra o hospital e contra a empresa onde Karine trabalhava, alegando descaso, negligência e violação dos direitos trabalhistas.
Procurados pela reportagem, o hospital e o plano de saúde ainda não se manifestaram. O espaço segue aberto para esclarecimentos.